terça-feira, maio 10, 2005

Lisboa Gerês, ou talvez

Há cerca de 20 anos (se calhar mais um bocadinho), três "malucos", que mais à frente terão oportunidade de ter os nomes escarrapachados, empreenderam uma viagem de Lisboa ao Gerês "a cavalo" de 2 motorizadas, e muita vontade de lá chegar.
As motorizadas eram uma Honda 50 do Josué (acabada de ter uma reparação de motor), e uma Casal 50 do Àlvaro que, por ser de fabrico português, não precisava lá de reparações de motor.
Pois bem, dois dos "malucos" já estão identificados, o outro era eu.
Para ganharmos tempo de viagem, partimos então numa bela sexta feira de fim de Agosto ou início de Setembro por volta das 9 e picos da noite do Café Pão de Açucar na Alameda em Lisboa, rumo ao destino: Gerês. Tínhamos, como é normal nestes casos, os amigos e amigas a despedirem-se e a desejarem boa viagem e boa sorte por aí acima.
As famílias não sei se sabiam bem onde íamos e como íamos!!!???
Fizemos então a noite de sexta para sábado estrada fora, direitos à primeira paragem programada (Coja / Arganil). Os dias estavam quentes, mas as noites eram frias de rachar. Pela antiga EN 1, a deslocação do ar (frio), mais as passagens frequentes de camiões fizeram-nos passar um mau bocado. Então quando atravessámos a Serra dos Candeeiros foi de ir às lágrimas. Eram para aí 7 da manhã estávamos em Pombal a decidir o que fazíamos: continuávamos; montávamos por ali a tenda e dormíamos um bocado, ou desistíamos e voltávamos para Lisboa.
Após um pequeno almoço retemperador, claro que arrancámos novamente e lá fomos até Coimbra e daí até Coja, onde chegámos já ao fim da tarde. Foram então cerca de 20 horas a puxar pelos motores das pobres motorizadas, entre Lisboa e Coja (no centro do País). Nesta 1ª etapa percorremos cerca de 266 quilometros, que divididos por 20 horas dá a modesta média de 13 quilometros por hora!!?? Grande andamento.... fartámo-nos de parar, foi o que foi.
Em Coja tínhamos à espera, em casa de amigos do Àlvaro, um jantar já esperado, e uma cama para descansar as horas anteriores de viagem. Lembro-me que a sopa era de agriões, o que comemos a seguir já não me recordo. Foi uma estada providencial e que nos deu forças para continuar com a outra parte da viagem.
No Domingo de manhã lá partimos em direcção a Lamego onde iríamos dormir no parque de campismo local.
Foi uma viagem pela estrada das Beiras que ligava Coimbra à Beira Interior.
O dia foi ocupado a tentar andar o máximo de quilometros possível (maugrado as paragens de 30 em 30 kms para descansar as motorizadas e os rins), e o almoço (uma vitela assada penso) foi na cidade de Viseu. Nesta 2ª etapa (bastante mais curta que a anterior), percorremos cerca de 170 quilometros.
Uns quilometros antes de Lamego o motor da Honda do Josué começou a dar sinais de algum cansaço ou coisa que o valha, o que levou a termos que procurar uma oficina para se proceder a uma verificação técnica (o Josué e o Àlvaro é que trataram de arranjar a solução numa oficina local, e eu fiquei a guardar os nossos parcos haveres), após o que começámos a subida da Serra das Meadas em direcção ao parque de campismo.
Esta subida foi um bocado difícil de fazer porque, alguém nos explicou na altura, a Serra das Meadas tem uma qualquer atracção magnética!!!!, o que fazia com que as motorizadas subissem 2 quilometros e tivessem que parar para arrefecer os motores. Foi assim uma situação um bocado atribulada porque também não tínhamos a certeza da motorizada do Josué aguentar, pelo facto de ter tido a reparação do motor e ter denotado os tais problemas que referi atrás. Enfim, lá chegámos ao parque de campismo, montámos a tenda e tivemos o merecido descanso até à manhã do dia seguinte.
Convém referir que na motorizada do Josué iam as nossas traquitanas (tenda; sacos cama; roupa etc), e o Àlvaro levou comigo à pendura mais umas pequenas coisas que ainda se podiam prender na parte por cima da roda trazeira.
Para que o nosso "esforço" fosse reconhecido por quem por nós passava na estrada, inscrevemos a frase "Lisboa Gerês, ou talvez" num catrapázio que colámos às costas do meu blusão.
De Lamego lá arrancámos para a penúltima etapa programada: chegar a Chaves a tempo de conseguirmos abancar no parque de campismo, e montar a tenda para um merecido descanso.
O almoço desse dia foi em Vila Real (as refeições, além de abundantes, eram sempre bem regadas, que nessa altura não havia estas modernices dos testes anti-alcoolicos, e a malta sabia beber). Foi a etapa mais curta desde a saída de Lisboa, em que percorremos apenas 109 quilometros. De Lisboa a Chaves já tínhamos andado cerca de 550 quilometros.
Isto em cima de veículos de 50 cc e por vales e serras é um bocado cansativo, mas gratificante.
À chegada a Chaves, e após chegarmos ao parque de campismo tivemos a 1ª decepção da viagem. Ainda hoje não sabemos porquê, mas o parque estava completo. Não havia lugares disponíveis. Lá tivemos que usar da nossa capacidade persuasiva para convencermos a recepcionista do parque a nos arranjar um lugar para montar a tenda.
Após alguns momentos de argumentação, foi-nos facilitado um lugar no terreiro de uma pequena capela, mesmo em frente à casa de banho....das senhoras !!!
Após montarmos a tenda fomos jantar, e quando regressámos pudémos constactar os atributos de muitas das miudas que por lá estavam. Contráriamente às nossas espectativas, nenhuma nos passou cartão, e lá tivemos que "apagar a luz e pormo-nos a dormir", que no outro dia esperáva-nos a etapa derradeira até ao Gerês.
De Chaves ao Gerês foi um pulo (cerca de 110 quilometros), comparado ao que tínhamos percorido anteriormente. E assim se fizeram 660 quilometros de Lisboa ao Gerês em 3 dias.
Se considerarmos que andámos em viagem cerca de 10 horas por dia, fizemos uma média de 22 quilometros por hora. Grande média!!!!! Pensando bem, a viagem foi feita no século passado, portanto.....não está mal....
Chegados ao Gerês tratámos de arranjar um bom sítio para montar a tenda. Tanto procurámos, que acabámos por montar a tenda na margem do Rio Homem ao pé de um grupo de miudas que tinham um sotaque esquisito (soubemos passado umas horas que eram de Braga). Lá tivemos que contar a história dos aventureiros...que tínhamos chegado ali idos de Lisboa em cima daquelas duas motorizadas que elas estavam a ver, e que a viagem nos tinha custado bastante, etc e tal. Ficámos nas boas graças daquele grupo de Bracarenses (mas após bastante trabalho de persuasão mais uma vez).
Numa das deambulações pela Serra, fomos dar à fronteira da Portela do Homem. Aí almoçámos umas sandes e fomos tentar a passagem para Espanha. Conseguimos convencer os guardas civis espanhóis a deixarem-nos ir até à povoação mais próxima que se chama Lobios.
Lá fomos "hablar" com as gentes do outro lado e daí a pouco tempo regressámos, demonstrando aos espanhóis que não fazíamos contrabando ou outra qualquer actividade menos própria.
Nesta estada no Gerês conhecemos um casal de Alemães, que convidámos para jantar connosco numa das noites, e que tiveram que nos acompanhar a deitar abaixo parte (quase todo!!!) de um garrafão de 5 litros de tinto. Este casal acabou por vir a encontrar-se connosco já na viagem de regresso para Lisboa, quando parámos 2 ou 3 dias em casa da Luísa na Areia Branca (junto à Lourinhã). A esta distância já não me recordo dos nomes da....e do.....(lembro-me que ainda se trocaram uns postais, mas depois perdemos o rasto deles...será que ainda estão casados?). Trocámos também alguma correspondência com as miudas de Braga, mas também se perderam os contactos.
Foi uma aventura engraçada, que tinha piada se a repetíssemos agora. O problema era que tínhamos que levar a prole atrás e se calhar baixávamos a média horária por quilometro........por outro lado também já não há motorizadas como antigamente....até já acabaram com o fabrico da Zundapp!!!!!!
Depois deste avivar da memória, espero pelos comentários dos outros dois envolvidos, de modo a juntarmos todos os "inputs", como hoje se diz. Modernices.................


As notas e correcções do Josué:
Isto é que é uma verdadeira surpresa!!O que a malta se divertía com coisas tão simples...O relato da nossa viagem está sensacional!! Esqueceste-te de falar daquelas malucas que também conhecemos em , penso eu , Aveiro , já no regresso a casa , e que moravam em Sto António dos Cavaleiros. Ainda nos encontramos com elas. Uma delas era boa como´milho a outra já não me lembro.E aquela zanga que nós tivemos já no Gerês ou coisa que o valha, na qual eu fiquei mosca como o caneco por uma qualquer razão e ameacei que era bem capaz de me baldar e deixar-vos sem tenda e tudo o resto (ha ha ha)...A motorizada que "avariou" foi a casal do Alvaro e não a minha honda cd 50!! ( olha lááá´). Teve um problema no rolamento da roda traseira e desmontámo-la ali mesmo , julgo que foi uma pedrinha que entrou para o "cubo" da roda . Lembras-te daquela mercearia em S. João do Campo ( Gerês ) onde fomos com os alemães comprar chouriços e outras coisas para comermos? Os alemães estavam deslumbrados porque na terra deles já há muito tempo não havia lojas daquelas.Lembrei-me agora que na primeira noite quan saímos de Lisboa ficámos a dormir ao relento num jardim mesmo no meio de Pombal. Os gajos dos camiões passavam por nós e buzinavam. Eh pá estava um frio do caraças. É extraordinário como ainda hoje recordo o cheirinho daquela sopa de agriões que comemos em casa do colega do Alvaro. E os "aprendizes" de GNR's que nos apanharam no gerês sem capacete ou que estes não eram certificados pela DGV. Lembro-me que o capacete do Alvaro era um AGV todo xpto e o guarda mesmo assim queria-nos multar. Mas não multou , claro! Ai se os nossos putos tivessem um décimo da iniciativa que nós tinhamos...Fomos uns priviligiados por termos sido jovens naquela década!! E que década.
12:00 PM


Comentários do Àlvaro 18Mai05
Olá pessoal. A demora da viagem na primeira noite foi quanto a mim, devido ao intenso nevoeiro que apanhámos logo a seguir á subida de Rio Maior e pela Serra dos candeeiros a fora, não se lembram? não se via Boi á frente do nariz, o que nos fez reduzir bastante a velocidade, já para não falar no frio e humidade que nos encharcou até aos ossos.O capacete era um bell star tinha no ano anterior ganho o prémio de o melhor capacete, e o melro queria multar-me com cem escudos.Em são joão do campo uma das vezesque fomos lá almoçar não se lembram que estivemos mais de meia hora á espera que uma quantidade de Vacas saissem da porta da Tascapara entrar-mos.
10:17 AM


















Sem comentários: