terça-feira, julho 10, 2007

Portela + 4

Eu sei que estas coisas devem ser mantidas em segredo, mas não consegui deixar de as compartilhar com os meus amigos. (saída à professor Marcelo)...
Então não é que estava descansadíssimo de férias, e recebi uma chamada do ministério das obras públicas?
Claro que o número que me aparecia no telemóvel não me dizia nada (ainda bem que não era privado, pq não teria atendido), mas assim que do outro lado uma voz feminina me disse que esperasse um pouco, porque o ministro daquela àrea queria falar comigo, fiquei siderado!!
(Pensei: ainda bem que não é o ministro das finanças e as suas tentativas de extorsão....!!!!)
Recompus-me do choque e afinei a voz.
Ao fim de uns bons minutos de espera (também não era eu que estava a pagar), lá "apareceu" o ministro do outro lado da linha....
Começou por me tratar pelo nome e apelido!!?? Pensei, mais uma vez: será que me formei em engenharia e não dei por isso?
(Mas rápidamente chequei à conclusão que só tinha andado no liceu....Ainda há pouco tempo me pediram o raio do certificado de habilitações no emprego, e lá tive que ir ao "velhinho" Gil Vicente chatear as senhoras da secretaria para irem ao arquivo de há 30 anos atrás procurar por um papel que podia já ter sido roído pelos ratos do papel).
Recompus-me novamente, e aguardei pela notícia que o ministro teria para mim (se estavam a ligar para o meu número de telefone e me chamaram pelo nome, era muita coincidência ser engano).
Finalmente, e depois de ouvir o ministro tossir várias vezes do outro lado da linha (não conhece de certeza os rebuçados do Dr. Bayard), lá foi dizendo:
- Senhor Jo***** Pat****, peço-lhe desculpa por esta espera mas vou explicar-lhe o porquê de estar a falar consigo neste momento. Como sabe, o país está envolto numa nuvem obscura àcerca da escolha para a localização do aeroporto. São estudos já com alguns anos....bla....bla....bla...bla, que custaram os olhos da cara e encheram os bolsos a umas quantas empresas de consultoria, mas que, infelizmente, concluímos ter que os mandar todos para o "6º arquivo" vulgo "lixo" (aqui tive que interromper o ministro e perguntar-lhe se ao menos as resmas de papel seriam metidas no contentor ecológico próprio?). Disse-me que ficasse descansado que, em termos de ecologia, ele até tinha tirado um curso em Bruxelas sobre aproveitamento do papel. Fiquei mais descansado!!
- Depois de vários dias de reflexão, continuou, chegámos à conclusão, aqui no ministério, que teríamos que enveredar por uma consulta tipo "work out".
Ou seja, ele pos-se a ler o livro do Jack Welsh e concluiu que, quando na organização que este "guru" presidia, acontecia algum problema de difícil resolução, eles iam buscar, fora da àrea do problema, alguém que o pudesse resolver, ou pelo menos ter uma ideia de partida para tal.
Já agora cito uma "brincadeira" do tal Jack Welsh, quando ele esteve por cá em Maio de 2006, a puxar as orelhas a uns quantos empresários aqui do burgo:
Jack Welch
Os Portugueses deviam estar «envergonhados» pela forma como são vistos no estrangeiro.
«É humilhante para os portugueses a percepção que o exterior tem de Portugal, que é a de uma contínua degradação e declínio ao longo dos últimos anos»,
(Foi só um aparte).

Mas, continuando com a chamada telefónica do "ministro dos desertos", continuou ele:
- Sabe, é que resolvemos adoptar esta linha de rumo!! Estamos fartos de engenheiros e afins. Estudam estudam, mas depois não conseguem arranjar solução para problemas tão simples (o simples a mim já me deixou um pouco aliviado).
- Achámos que a solução está na consulta aos cidadãos comuns, mas apenas a um só, para não criar a situação que temos no governo, que são uma série de cabeças a dar sentenças e depois as medidas viram "flopes" (ele fala assim meio afrancesado.....flopes....jamés....não sei onde raio foi buscar as palavras, mas se calhar foi emigrante?) Falei com o meu colega das finanças (aqui fiquei outra vez apreensivo), e ele fez girar a tômbola dos números de contribuinte e saiu o seu!!!!????
Aqui tive que interromper: sr ministro, não se incomode, se quiser pode atribuir-me outro número e esquecemos a conversa.
Não não, disse ele: é você o escolhido, é você que terá que ir com isto para a frente.
Nesta altura da conversa já estava por tudo, e até cheguei a pensar que se calhar me iam dar uma licença sem vencimento (mas com custas diárias pagas), e me iriam propor começar a viajar pelo mundo para visitar os vários aeroportos internacionais e depois contar o que vi!
Mas não, não era nada disto.
O que o ministro pretendia era uma uma tarefa mais hérculea!
Continuou ele:
- Senhor Jo**** Pat****, foi escolhido para cumprir um desígnio que ficará na história.
- Como sabe, apontámos para a OTA, mas formou-se logo um coro de protestos dos que não tinham quaisquer interesses naquela zona. (Confidenciou-me que não sabe agora o que fazer à ponte da Lezíria??? Sugeri-lhe que deixasse os gajos do "tunning" irem para lá matarem-se à vontade sem incomodar os outros. Disse que ia pensar.)
E continuou:
- Sabe que há uma pessoa em Portugal que tem uma grande influência na opinião pública (quem disse eu? o Prof. Marcelo?). Não disse ele: o Dr.??? Paulo Portas. Há OK anui eu!!!!
- É que o PP (aqui já estávamos naquela fase da conversa em que só não nos tratávamos por tu porque não andámos juntos na mesma escola) sugeriu e anunciou que a melhor solução era Portela + 1.
- Como de certeza percebeu, o País aí meteu a 3ª; travou a fundo e ficou com esta na cabeça, ao ponto de o presidente da câmara onde reside (o tal de Sintra que é do Benfica e do PSD, mas que não percebe nem de futebol nem de política, nem de gestão camarária), sugerir Portela + 2 !!??
Na realidade, disse-lhe eu, ainda não tinha pensado nisso a fundo, mas parece que o senhor ministro tem razão.
Pois é mau caro Jo***** Pat****, o meu amigo???!!! está a começar a perceber de política!!!??? (a perceber de política? pensei eu...bem, mas se ele que é ministro o diz, deve ter razão).
Continuou o ministro:
- Não vamos fazer a vontade ao PP, nem ao PSD.
- Não será Portela +1 ou +2, mas PORTELA + 4.
Aqui tive que interromper o ministro com alguma veemência e chamá-lo à razão:
- Caro ministro: PORTELA + 4????
- Mas isso não são "aeroportos a mais para os nosso aviões"?
Aí é que você está enganado, diz ele.
Vamos optar por essa solução, e escolhemo-lo a si para a desenvolver!!
Lá continuou ele (calculo que a conta de telefone aqui já iria para aí nos 700 e tal euros, mas como não era ele a pagar, estava na maior):
- Como sabe, temos: o aeroporto da PORTELA; o aérodromo de TIRES; as bases aéreas de SINTRA; do MONTIJO e de MONTE REAL.
Sim, até aí já cheguei, disse eu.
Então as coisas começam a ficar claras para si, ou não?, disse ele.
Já percebi que temos uma equação com 5 pistas de aterragem, disse eu, mas daí até perceber o que o senhor ministro pretende, ainda vai um bom bocado.
Ora bem, caro Jo*****Pat****, só tem que atribuir cada uma das pistas a uma classe social (p.ex. as Tias aterram em Tires; os Saloios em Sintra; os Beduínos no Montijo; os Peregrinos de Fátima em Monte Real, e deixamos a Portela para os "Camones").....
Genial, disse eu. Mas senhor ministro, se já tinha a solução, porquê o meu envolvimento?
Meu caro Jo*****Pat****, uma coisa é um ministro anunciar esta ideia (caia-me o povo todo em cima). Outra coisa é ser um cidadão comum como você a fazê-lo: todos irão aprovar, e nem sequer deixámos ninguém de fora.....
Genial senhor ministro; genial, disse-lhe eu.....

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